31 dezembro, 2012

Do que se desfaz

"O prazer engravida, o sofrimento faz parir".

E é com essa ideia – mencionada por Rubem Alves – de William Blake que me despeço do ano que se desfaz e convido o próximo a se desfazer.  Os anos não têm sido fáceis, e esse não foi diferente. Relações já frágeis se quebraram de uma maneira que eu não imaginava, eu chorei bem mais do que sorri, eu tive dores bem mais do que curas, mas (o importante é que emoções eu vivi?) eu também aprendi muito.

Entrar numa universidade pública não me tornou/torna melhor nem pior que ninguém, é apenas uma fase, bastante efêmera, da minha vida.  Eu sei que para muitas pessoas isso soa bastante ingrato, principalmente aos amigos e amigas que tanto lutam para ter acesso a uma, mas não é simplesmente cuspir no prato que come, só realmente acredito que viver me ensinou/ensina muito mais que uma “grade” acadêmica – há quem concorde comigo, esses malamimicos da vida (e dessa vez é pra fazer o favor de arrastá).   

Diferente dos anos anteriores, eu ousei bem mais no que diz respeito à militância feminista, embora tenha participado menos de discussões polêmicas. Fui à minha primeira Marcha das Vadias, acompanhada de amigas lindas que o universo fez o favor de me apresentar, levando comigo namorado – que foi mesmo doente e tem sido um parceiro sensacional, e o amigo – que acredita mais em mim do que eu mesma e nesse momento está lá em Floresta Azul curtindo a paisagem. Vi o quanto a pluralidade no feminismo pode causar desentendimentos sérios e, às vezes, por tão pouca coisa (sofri/sofro muito com isso), mas também pode enriquecer de tal forma os debates a ponto de a ideia de um mundo justo para TODAS as pessoas parecer menos utópica.  

Tive encontros maravilhosos com conhecid@s desconhecid@s: lançamento da revista Dandara; virada paulista; roda poética; visita à matilha; primeira super botecada feminista.

Espero que o próximo ano se desfaça mais de amores, risos, encontros, poesias, do que o contrário. Que meu ser triste esteja menos triste, porque a junção de ser e estar assim é muito dolorosa.  Que eu engravide ainda mais sonhos e que pari-los compense o sofrimento que possam causar. 

* o sofrimento às vezes também engravida. 

29 julho, 2012

Dos sonhos


Eu estava em cima de um muro, no alto do nada ou do céu – não sei ao certo, tremendo de medo e tentando me equilibrar. Eu podia ver o Chorinho descendo uma escada até chegar numa superfície e me chamar, desesperada, gritava por ajuda e tentava de alguma forma me movimentar naquele muro que não tinha nada de seguro. O Chorinho - tendo então escutado o meu pedido - já estava novamente próximo ao alto da escada, eu sabia que ele dizia algo confortador, mas o medo não me permitia entender o quê. A escada era de corda e madeira e, estando ela presa no meio do nada, girava com o peso do Chorinho, o que me causava ainda mais pavor. Quando finalmente alcancei a escada percebi que o degrau necessitava ser montado para fixar o pé e então descer. Antes mesmo de tentar, acho até que disposta a desistir, o Chorinho, pouco distante de mim, foi montando os degraus conforme eu ia (em estado de oração) descendo, até chegarmos juntos ao fim do meu sonho.  

15 junho, 2012

Sobre amar

Ai vida, ai tristeza, ai ai coração, ai ai amores...

Eu conheci bons amigos, eu conheço ótimos amigos e conhecerei amigos ainda melhores. Todos esses são as mesmas pessoas, mas diferentes. Comigo não tem esse papo de tirar ninguém da minha vida tampouco inverter prioridades. Não é questão de dar sem esperar algo em troca, é questão de quando der saber que já recebe. Eu sou de quem me é, no instante em que é; com amor. Não sei dizer se sou boa amiga, mas mesmo com diferentes graus de intimidade eu amo do mesmo modo (não sei se foi assim desde sempre). Por que disso? Recebi uma ligação daquelas inusitadas, não só pelo horário como também pelo que se espera e que não é. Espera-se aquela pessoa alegre da vida, mas o que se escuta é a voz calada, cansada, sem sorrisos. Eu fiquei contente não por saber que  o outro, além de mim, sofre as dores do mundo, mas por ter sido eu a procurada. Porque, talvez, mesmo eu muda sem saber o que dizer, ou tagarela falando sem saber o quê, estou amando... Acho que as pessoas não estão muito interessadas em escutar ou falar, mas em sentir que são amadas.